quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Ser professor

 

Não me formei para ser professora, tanto que na época da graduação eu poderia fazer bacharelado e licenciatura juntos, e escolhi apenas bacharelado. No entanto, sabia que, para fazer aquilo que eu queria, que é pesquisa, precisava estar em uma universidade pública e, portanto, deveria ser professora também.


Foi em 2006, na Unipampa, que comecei a minha carreira docente. Na época, eu peguei uma disciplina de Cálculo 1 para o curso de Engenharia de Alimentos, pois meu concurso tinha sido na Matemática. Na primeira aula eu estava uma pilha de nervos, e deve ter sido a pior aula que já dei (rs). Mas quem me conhece sabe que não consigo fazer nada meia-boca (não estou me vangloriando, até porque o preço de ser assim é muito alto), e com o tempo fui aprimorando minha “didática” e gostando de ensinar. Li Paulo Freire e Rubem Alves, tentei abordagens diferentes; aprendi que ensinando eu me aprofundava cada vez mais nos temas das disciplinas, pois é quando a gente tem que explicar é que usamos tudo o que sabemos para se fazer entender. Também tive que me deparar com as minhas falhas e limitações pois, não importa o quão boa seja a nossa aula, a aprendizagem não depende apenas de nós.


Tive poucos feedbacks, mas os que recebi me emocionaram muito mais que qualquer artigo que eu tenha publicado. Teve um que lembro com muito, muito carinho: uma estudante jamaicana que me procurou para pedir ajuda extraclasse, pois ela tinha muita dificuldade. Combinamos vários horários de atendimento, e no fim ela passou sem exame. Dias depois do fim da disciplina, ela me manda um e-mail dizendo que tentou me encontrar pessoalmente, mas não conseguiu: ela queria me agradecer muito, porque sem mim ela não teria conseguido. Toda vez que penso nisso lágrimas aparecem nos meus olhos, porque a verdade é que eu não vou ser nenhuma Marie Curie ou Emily Noether na pesquisa, então o meu legado mais importante é ajudar os estudantes a entender física, e quem sabe eles e elas contribuirão mais do que eu para a ciência.


Hoje em dia é na sala de aula que me realizo, pois ensinar não é uma via de mão única: ao ensinar, eu aprendo, penso e crio. Uma aula, para mim, é quase como um ritual: me visto para me sentir bem, e me preparo para a melhor aula que eu possa dar. Às vezes dá certo, e às vezes não dá, afinal sou humana. E estou morrendo de saudades desse contato com os estudantes.


Na pandemia, tive a oportunidade de ver professores do ensino básico ensinar através do ensino remoto da Yasmim, e digo: é outro nível. Eu realmente acho que esses(as) professores(as) têm um dom fantástico, de fazer a criançada entender coisas e ao mesmo tempo manter a disciplina necessária para a aula. Eu os(as) admiro muito mais agora, e entendo completamente o lugar de destaque que possuem nos países nórdicos. São eles e elas que colocam os primeiros pilares de conhecimento na cabecinha dos futuros adultos. É um trabalho de muita importância para formar cidadãos e seres humanos éticos e responsáveis.


Um parabéns a todos os meus colegas, conhecidos e amigos professores. Que possamos manter a chama da empolgação e da dedicação no nosso fazer e ser.