terça-feira, 2 de junho de 2020

Nazi-fascismo e o governo Bolsonaro

O nazi-fascismo está mais presente do que nunca. Não foi suficiente apresentar ao mundo os campos de concentração e um mundo dizimado pela Segunda Guerra: suas sementes teimam em brotar mesmo um século depois. É preciso entender que o nazi-fascismo tem uma receita, uma estética e uma organização muito bem definidas, estas seguidas a risca pelos movimentos de ultra direita. Vou falar aqui um pouco desta receita e de como o governo Bolsonaro e seu séquito de fanáticos se apropriam e reproduzem este movimento.

Após sua prisão em 1924, Hitler escreve Mein Kampf, o livro que expõe sua visão de mundo. Esta visão de mundo engloba poucos conceitos e de forma vaga. Para Hitler, a Alemanha foi destruída pelos "traidores de Novembro", que aceitaram a derrota da Alemanha na Primeira Guerra e era representada pela República de Weimar, de orientação política social democrata. No entanto, Hitler culpa os comunistas, dizendo que o marxismo era uma invenção dos judeus, a grande escória que subjugava o povo alemão. Era necessário resgatar os valores alemães: a sua cultura e tradição (folk), a família e a pureza da raça ariana. Os degenerados e fracos (judeus, ciganos, comunistas, pessoas que necessitam de cuidados especiais) deviam ser banidos e destruídos, e os verdadeiros alemães (raça ariana) deviam reconstruir a Alemanha através do Terceiro Reich. Os territórios perdidos na Primeira Guerra deviam ser recuperados, e outros deviam ser conquistados para o que ele chamava de "espaço vital", necessário para reconstruir a Alemanha e elevá-la acima dos outros povos como grande potência militar.

Para isso, Hitler sabia que era necessário ter um exército próprio de milicianos (as SA e as SS), o qual ele teria total controle e que estariam a postos para o que fosse necessário fazer. Após o golpe frustrado no começo da década de 1920, ele entendeu que esta não era uma via possível para a chegada ao poder, e por isso concentrou esforços em chegar ao posto mais alto de comando da Alemanha pela via democrática. As tropas de assalto (SA) intimidavam os oponentes, em especial os comunistas, mas não seriam usadas para a chegada ao poder: elas simplesmente simbolizavam o poder militar que Hitler poderia reunir, como uma ameaça velada.

Hitler construi uma estética para o Terceiro Reich. Sua visão arquitetônica era calcada na era clássica, fazendo um apelo claro para o retorno aos valores tradicionais. A arte moderna, em especial a produzida por judeus, foi execrada: algumas destruídas quando ele chegou ao poder, outras expostas num museu para exemplificar "a arte degenerada que deveria ser banida". As fotos dos grandes comícios nazistas (que ocorriam em Nuremberg) mostram uma ordenação que lembra a Roma antiga, com suas tropas perfiladas de forma milimétrica, as bandeiras nazistas e os uniformes militares. E claro, não podia faltar a saudação "Heil Hitler" com o braço estendido, gesto de profunda submissão de seu séquito ao grande Fuhrer.

Goebbels, por sua vez, foi o grande idealizador da propaganda nazista. A propaganda nazista era necessária para manter o controle das massas, para a grande lavagem cerebral que martelava que era necessário se proteger do avanço comunista e reconstruir a Alemanha para os verdadeiros alemães. A visão do Fuhrer era repetidamente propagada, com discursos eloquentes e de slogans simples, que iam de encontro aos corações e estômagos alemães.

Com esses três grandes pilares (milícia organizada, estética e propaganda), o partido nazista cresceu muito no final da década de 1920 e começo de 1930, levando Hitler a ser convidado pelo presidente Hindenburg para ser chanceler da Alemanha em 1933. Com a morte de Hindenburg e a dissolução do Reichstag, ele virou o ditador da Alemanha e conduziu o mundo para a Segunda Guerra Mundial e o holocausto.

A receita do nazi-fascismo é seguida com exatidão por Bolsonaro e a ultra direita. Não são à toa as milícias armadas e a campanha para que todo cidadão tenha uma arma para poder se defender, as camisas verde-amarelas, os slogans como "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", o temor do avanço comunista ("Brasil não vai virar uma Venezuela"), e a retomada dos valores tradicionais de tradição, família e propriedade. Bolsonaro prega um nacionalismo para poucos - apenas para os cidadãos de bem, os não degenerados. Assim como Hitler, chega ao poder com o apoio da burguesia, que vê a possibilidade de retomar seus lucros exorbitantes via exploração da força de trabalho e retirada de direitos trabalhistas. Mas, para nossa sorte, Bolsonaro não conseguiu retomar a economia e a reconstrução do país, algo que Hitler teve grande êxito.

No entanto, não nos deixemos enganar com suas dificuldades técnicas em recuperar o país e conter a pandemia da COVID-19. As manifestações em frente ao Palácio do Planalto todos os domingos pedindo o fechamento do congresso e do STF, as ameaças de seus filhos e ministros à democracia e as manifestações que usam a estética da supremacia branca devem nos arrepiar e nos colocar em sinal de alerta máximo. Não são demonstrações de loucos que não sabem o que fazem, ao contrário: elas explicitam ainda mais a visão de mundo de Bolsonaro e de seus seguidores. Uma visão de mundo que combina nacionalismo, fascismo, ditadura e extermínio/subjugação de quem se coloca em oposição ao seu projeto de poder, apoiada por milícias armadas prontas a agirem. Nestes 30 anos desde a derrubada da ditadura militar, nunca estivemos tão próximos de retornar a 1964. E assim como em 1964, estamos perplexos e paralisados.

É hora de acordarmos, de nos posicionarmos. A história da Alemanha nazista precisa ser o alerta para o que estamos vivenciando. Não adianta somente gritarmos nas redes sociais que somos antifascistas; é preciso sermos de fato. 

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